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Primeira-ministra Pauline Marois.
Fonte: The globe and mail. |
Quando
a Primeira-ministra Pauline Marois assumiu o governo do Canadá muita
gente ficou preocupada. Afinal, quais mudanças seriam feitas por uma
governante vinda do Parti
Québécois para a província. Bom,
por sorte ou não (depende de que ponto de vista você compartilhe),
o maioria do parlamento é formada por representares de partidos de
oposição, o que acredito seja o ideal para uma equilíbrio de
interesses.
Eis
que o momento que todos aguardavam finalmente aconteceu: o projeto de
lei 14 para a alteração da Carta da Língua Francesa (lei 101 que
assegura o direito de viver e trabalhar em Francês) foi proposto e
aprovado.
E não é que a coisa foi muito mais light do que se
esperava?! "Estamos
em um governo de minoria, queremos garantir que esta legislação
seja aprovada", disse Madame Marois, justificando o porquê de
ela e sua equipe optarem por propostas menos radicais. Claro
que mudanças acontecerão, afetando milhares de pessoas,
especialmente imigrantes, mas nada comparado ao bicho que sete
cabeças todo mundo achava que ia surgir de lá.
Seguem
alguns pontos que me chamaram a atenção:
Nas
creches, as atividades na língua francesa receberão mais
incentivos, tornando menos impactante o período de transição das
crianças para a escola. Acredito que essa seja uma medida
extremamente importante para filhos de imigrantes que muitas vezes
tem mais contato com o idioma materno e paterno que com o do país
antes de ingressar no colégio.
Os CEGEPs (algo entre colégio e
faculdade) que originalmente falem inglês dentro de Quebec não
serão extintos nem proibidos a francófonos, essa era uma das
grandes preocupações. Serão mantidos sob a condição de que, para
receber seu diploma, o aluno terá antes que comprovar que também
tem conhecimento em Francês, assim como aquele profissional que
precise tornar-se membro de alguma ordem.
Nas
empresas, aquelas que empregarem entre 10 e 25 funcionários
precisarão deixar claros os direitos linguísticos dos seus
empregados de se comunicarem em francês se assim o quiserem. Já
aquelas com mais de 26 pessoas, devem
garantir que a língua utilizada para o trabalho seja a francesa,
enquanto na versão atual só precisavam se preocupar com isso
empresas com mais de 50 funcionários.
O
PQ não quer que a falta de domínio da língua francesa se torne
fator discriminatório para contratações (a não ser claro, que o
Francês seja necessário para alguma função específica), se
comprometendo a oferecer a francisação a todo que precisarem.
Já no comércio, nos estabelecimentos pequenos, o governo
promete ser mais flexível desde que para o atendimento ao público
haja sempre funcionários capacitados a se comunicarem na língua
local.
Para
aqueles que quiserem consultar o Projeto de Lei 14, deixo aqui o
link:
Para
as medidas quanto a educação achamos quase tudo bem lógico. Ficou dentro da ótica do partido... -Ajudar criancinhas a entrarem no colégio
entendo a língua que eles utilizarão nas aulas? ok. -Manter os
CEGEPs que forem em inglês obrigando os alunos a fazerem
provas de francês para receberem sua ficha 19 (ou seja lá como se
chame isso) visto que vivem em Quebec? É... Coerente, já que
terão que entrar no mercado de trabalho se comunicando em Francês... -Profissionais que pertencerão a uma ordem fazerem provas para
poderem trabalhar? Compreensível, mas o conhecimento de Francês não
deveria ser obrigatório para tudo mundo? Muitas
dessas profissões precisarão fazer cursos de adaptação de seus
diplomas, as provas não deverão serem respondidas em Francês? Uma
coisa já não implica na outra? É importante que um profissional de
saúde consiga se comunicar bem com seu paciente,
ou um engenheiro civil conseguir explicar tudo para o pedreiro. Mas
isso também já não é avaliado na validação do diploma? Será
que não vai dificultar ainda mais pra essas pessoas? -Obrigar
empresas a partir de 26 funcionários a se comunicarem no trabalho em
francês. 26 pessoas ainda é uma empresa relativamente pequena,
certo? E aquelas empresas americanas (por exemplo) que montam
estúdios ou filiais em Quebec? Isso é comum em computação.
Acrescente o fato de na própria profissão se trabalhar muito em
inglês. Como é que fica? Será que não vai espantar alguns
investidores? Isso tudo sem contar que quanto mais coisa se pede, mais
burocracia se gera.
Particularmente acho (Tereza) importante a preocupação
deles em cuidar do Francês, já vi muita gente falando que acha um
exagero e que se você percorrer a província, saindo de Montreal,
vai ter muita dificuldade de se comunicar em Inglês. (Ok, hora da
polêmica) Mas passar a se comunicar em outra língua não ajuda na
perda da identidade local? Québec hoje é uma das províncias que
recebe mais imigrantes e Montreal um dos destinos mais procurados.
Boa parte dessas pessoas não vem de países onde se fala francês
como primeira língua. Soma-se a isso o fato de o inglês estar
sempre presente no cotidiano em filme, músicas, seriados, livros...
e que é a língua que o resto do país fala e analise.
Todo
mundo já ouviu aquela “é melhor prevenir que remediar”, essa
não é uma das grandes queixas em relação ao Brasil? Que o governo
só toma previdências (quando toma) depois que aconteceu? Só vai
consertar a ponte depois que ela já caiu, tira morador de área de
risco depois que já desabou, opta por dar cota nas universidades no
lugar de dar mais atenção à educação básica e assim por diante... Visto que o Francês é sua língua oficial, achamos que o Governo de Québec está certo em não fechar os olhos e deixar a coisa passar, com o tempo todo descuido vai ficando mais complicado “tratar”. Agora
claro, tudo isso sem radicalismo. Não dá pra fechar a porteira e
falar: -agora galera, só em Francês!
Achamos que algumas medidas foram legais, outras nem tanto, lembrando que aqui só escrevemos algumas. Mas que para nós imigrantes, começando do zero qualquer
mudança pode deixar o processo mais complicado, né?
Vamos investir no
Francês.
Carlos e Tereza